terça-feira, 23 de março de 2010

Pessimismo capitalista e Darwinismo social

Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra mais traços destrutivos que construtivos? É notório que o modelo social montado já nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo em vista da acumulação privada de riqueza não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização do irracional. Hoje percebemos claramente que não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir como ainda querem os membros do G-20 e do PAC.

A situação emerge mais grave ainda quando este sistema vem apontado como o principal causador da crise ambiental generalizada, culminando com o aquecimento global. A perpetuação deste paradigma de produção e de consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana sobre o planeta.

Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790), professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoístas, cada qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual todos competem com seus produtos, equilibrando assim os impulsos egoístas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado, se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada.

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra.

Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos: os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar um aterrador egoísmo? Smith, preocupado com esta barbárie e como professor de ética, acreditava que o mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoísmos e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre desmentida pelos fatos.

Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no egoísmo. Este existe, mas pode ser limitado, por aquilo que ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é fruto da cooperação de seu país e comparece como um nó-de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações de reciprocidade que limitam o egoísmo. É verdade que egoísmo e altruísmo convivem. Mas se o altruísmo não prevalecer, surgem perversões como se nota nas sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no enfraquecimento da cooperação. Esse egoísmo coletivo faz todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruísmo e compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é membro da grande família humana.

Isso não é uma questão apenas de política, mas de ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão.

[Autor de Princípio compaixão e cuidado, Vozes (2007)].

Leonardo Boff *

segunda-feira, 22 de março de 2010

Eduardo Galeano lamenta que fatos de Cuba sejam manipulados.

O escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, alertou, na quarta-feira (10), que “contra Cuba é aplicada uma enorme lupa, que amplia tudo o que ali ocorre, sempre que convém aos interesses dos inimigos, chamando a atenção para o que se passa na revolução, enquanto a lupa se distrai e não consegue ver outras coisas importantes que a mídia não informa”.
Galeano, que participou do seminário internacional “Direitos humanos, mulher e fronteira: o feminicídio da Cidade Juarez”, organizado pela Universidad Internacional de Andaluzía (UNIA) em Sevilha, deu estas declarações em uma coletiva de imprensa após uma pergunta sobre o preso cubano Orlando Zapata, que morreu após uma greve de fome.
Neste sentido, o escritor disse que “respeita a decisão de alguém que é capaz de fazer greve de fome e morrer por suas crenças, ainda que não seja algo digno de aplausos”. Ao mesmo tempo, ele disse que o que aconteceu com Zapata e ocorre agora com o jornalista Guillermo Fariñas (também em greve de fome) são coisas “importantes e infelizes”.
No entanto, Galeano, lamentou que “a mídia não tenha registrado, nas tantas páginas que dedicou ao terremoto no Haiti, que Cuba foi o país que mais enviou médicos ao local (mil), e que os médicos haitianos receberam sua formação no país cubano de forma gratuita”.
Assim, acrescentou que, “enquanto Cuba manda médicos, os Estados Unidos enviaram soldados, o que implica uma concepção das relações internacionais diametralmente oposta.”
Ele também assegurou que “Cuba continua a ser um país exemplar na sua capacidade de solidariedade e em sua dignidade nacional”. Galeano afirmou, no entanto, que não aplaude tudo o que a ilha faz, “pois o amigo de verdade é aquele que critica na frente e elogia pelas costas”.
Além disso, o autor de “Memória do fogo” afirmou que “a discriminação neste mundo contra as mulheres continua e é muito grave, porque, embora tenham ganho algumas batalhas, ainda há discriminação marcada pelas tradições machistas, elitistas ou militaristas, embora exista quem pense que o problema está resolvido”.
O escritor disse que “não pretende demonstrar que as mulheres são melhores que os homens, ou os negros que brancos, ou os índios que os conquistadores, mas, sim, exigir direitos iguais, a fim de mostrar o que somos, isto é, metade lixo, metade maravilha”.
A este respeito, disse que “continua a acreditar que o fato de Barack Obama ter sido eleito presidente dos Estados Unidos é positivo, porque se trata de reivindicar a igualdade de direitos em um país que tem algumas contradições do racismo tão frequentes”.
Ao mesmo tempo, Galeano disse que não acredita que o presidente teve tempo de ler a cópia de “As Veias Abertas da América Latina” que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lhe deu de presente, pois “Obama é um homem prisioneiro do poder e isso não deixa tempo para ler “, disse, embora tenha confessado que “teria recomendado outro livro mais ‘palatável’”.
Ele também lamentou que “Obama não aproveitou a entrega do Nobel da Paz para purificar a tradição norte-americana nesse prêmio – após tê-lo recebido Wilson, um fervoroso admirador da Ku Klux Klan, e Roosevelt -, elogiando a guerra em seu discurso.”
Com relação à crise, o jornalista uruguaio disse que a situação atual confirma que o capitalismo “é um sistema regido por grandes empresas, transformando o mundo em um cassino onde ganha o que melhor vence”. Nesse sentido, advertiu que uma conseqüência dessa crise é “a ressurreição do racismo, pois o elevado número de desempregados em países como Espanha, Itália e outros países do norte do mundo resgatou manifestações de racismo que se acreditavam enterradas.”
Fonte: Portal Vermelho e Quem tem medo do Lula?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Socorro: a quem interessa pressionar Lula e o Brasil contra Cuba?

No ano do 51º aniversário da Revolução Cubana — marco da luta latino-americana pela autodeterminação dos povos —, os setores mais conservadores da comunidade internacional deflagraram nova campanha contra Cuba.


Por Socorro Gomes*, no site Cebrapaz


A escalada teve como estopim a morte, em 23 de fevereiro, de Orlando Zapata Tamayo — um cubano de 42 anos, detido nos marcos da legalidade por “delinquência comum” (e não um “preso político” nem “dissidente”), que estava em greve de fome havia 85 dias.

As agressões partem desde a Casa Branca, o Parlamento Europeu e da base conservadora do Senado brasileiro até os conglomerados midiáticos, passando pelas famigeradas ONGs tão subservientes aos interesses imperialistas. Com muitas insinuações — mas sem apresentarem um único indício de tortura, sequestro e desaparecimento em Cuba —, levantam a grita para clamar por sanções econômicas e, no limite, intervenções no regime cubano.

A Guillermo Fariñas Hernández, outro cidadão cubano em greve de fome — mas já solto, livre! —, o governo propôs até uma licença de emigração para a Espanha, recusada por ele e, claro, pelas forças subversivas que lhe dão apoio.

O excesso de cinismo desses grupos não mereceu respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que com razão comparou o status jurídico desses supostos “dissidentes” ao de rebelados em unidades prisionais de São Paulo. Declarou ainda que o governo brasileiro se relaciona diretamente com outros governos, e não com seus presos.

Da mesma forma, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) repudia a ofensiva anticubana. Denuncia o caráter imperialista, a ingerência e a hipocrisia que cercam os discursos exaltados. Tudo se dá sob uma denúncia de pretensa violação dos direitos humanos, da qual até o Itamaraty e o governo brasileiro seriam cúmplices — apenas por respeitarem o princípio de soberania nacional.

A quem interessa a manobra para pressionar Lula e o Brasil a rasgarem suas biografias e, de uma hora para outra, se posicionarem como sabujos dos interesses do imperialismo estadunidense, da intromissão, da política de terrorismo de Estado? Por que a grande mídia brasileira e a oposição a Lula, liderada pelo PSDB, esbravejam com ardor para desestabilizar uma pequena e pobre nação caribenha, mas ignoram a prolongada e repugnante ocupação do Iraque e do Afeganistão? Sem contar a complacência com Israel e sua criminosa política de Estado contra os palestinos.

As mesmas forças contrárias a Cuba apoiam, em contrapartida, a instalação de bases navais americanas e a retomada da 4ª Frota no continente, fazem vista grossa à manutenção da prisão de Guantánamo, afrouxam o tom contra as guerras no Iraque e no Afeganistão, continuam a chancelar o golpe de Estado em Honduras, entre outros descalabros. Sequer mencionam os cinco cubanos patriotas e contraterroristas que estão ilegalmente presos nos Estados Unidos, sem direito à defesa, sob critérios abusivos.

É preciso apoiar a luta histórica do povo cubano pelo novo mundo e pela justiça social, contra as desigualdades, a fome e a opressão. Há cinco décadas, Cuba convive com um criminoso bloqueio econômico, que exaure — este, sim — a dignidade humana e põe 11 milhões de pessoas sob ameaça de asfixia.

Abaixo a escalada de agressões a Cuba, a intromissão e o bloqueio econômico!

Viva a heroica resistência do povo cubano em luta por autodeterminação e soberania.

* Socorro Gomes é presidente do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz

sábado, 13 de março de 2010

Altamiro: PT finalmente reage à agressão midiática


Do excelente blog do Altamiro Borges - Jornalista.

Passado o convescote Instituto Millenium, antro da direita hidrófoba do país, os barões da mídia resolveram ir às ruas para evitar o perigo da “restauração stalinista e castrista” representada pela candidatura Dilma Rousseff. Como na preparação do golpe midiático na Venezuela, em abril de 2002, agem como “una solo voz”. A Veja estampa na capa a manchete “caiu a casa do tesoureiro do PT”; na sequência, a TV Globo difunde a versão para milhões de telespectadores desavisados; já os jornais Folha, Estadão e O Globo, entre outros, dão farta munição para a artilharia pesada.[...]

Diante deste autêntico “genocídio midiático”, a sociedade fica perplexa e confusa; parlamentares da base aliada se acovardam; até alguns demos voltam a falar em ética na política, deixando de visitar Arruda, o “vice-careca”, na prisão; e os tucanos tentam sair do seu inferno astral. Alguns expoentes petistas ainda defendem a tática do se fingir de morto, achando que isto abrandará o ódio da mídia. Neste cenário, a nota pública do novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, é um alento. Serve para esclarecer a população, municiar a militância e retomar a ofensiva política.

A bandidagem do Estadão e da Veja

“É com perplexidade e absoluta indignação que o PT vem acompanhando a escalada de ataques mentirosos, infundados e caluniosos por parte de alguns órgãos da imprensa a partir de matéria sensacionalista publicada na última edição da revista Veja. O mais absurdo desses ataques se deu no jornal O Estado de S.Paulo, que usou seu principal editorial para acusar o PT de ser ‘o partido da bandidagem’ – extrapolando os limites da luta política e da civilidade sem qualquer elemento que sustente sua tese”, afirma o partido do presidente Lula, que finalmente decidiu reagir.

Ainda segundo a nota, o PT “buscará, pelas vias institucionais, a devida reparação judicial pelas infâmias perpetradas nos últimos dias. Acionará judicialmente o jornal O Estado de S.Paulo, pelo editorial, e a revista Veja, pela matéria que começou a circular no último sábado. Representará no Conselho Nacional do Ministério Público contra o promotor José Carlos Blat, fonte primária de onde brotam as mentiras, as ilações, as acusações sem prova e o evidente interesse em usar a imprensa para se promover às custas de acusações desprovidas de base jurídica ou factual”.

Os interesses eleitoreiros da mídia

A nota do PT é mais do que justa. É necessária à democracia. Quanto às “reporcagens” da mídia demotucana, elas atentam contra a própria Constituição Federal, que estabelece a “presunção da inocência”. Sem ouvir os acusados, numa atitude covarde, a mídia incorreu novamente no crime da “presunção da culpa”. Requentou antigas denúncias sem apresentar qualquer prova concreta. Seu objetivo evidente é acuar a candidatura de Dilma Rousseff e ajudar no palanque eleitoral do tucano José Serra, homem de confiança das famíglias Marinho, Civita, Frias e Mesquita.

Quanto ao promotor José Carlos Blat, fonte primaria das ilações da Veja, o PT poderia anexar ao processo velhas denúncias da própria revista contra o sinistro sujeito. Entre os manjados padrões de manipulação da mídia, um dos principais é realçar o que interessa e ocultar o que não serve no momento. Neste caso, a Veja preferiu esconder as denúncias que já fez contra o promotor – que revelou recentemente suas pretensões políticas. “Estou pensando em me candidatar a deputado”.

Fonte primária é bastante suspeita

A revista sabe que Blat é um elemento suspeito. Quando integrou o Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ele foi acusado de tentar se livrar de multas do Detran e de proteger suspeitos de corrupção. Em 2004, Blat inclusive foi afastado do órgão. Na ocasião, a Corregedoria do Ministério Público apontou vários indícios de crimes: uso de veículo e pessoal da Gaeco para interesses pessoas; negociar com um delegado a liberação do seu pai, preso em flagrante por armazenar bens roubados; abuso de autoridade e enriquecimento ilícito.

Ele também foi acusado de beneficiar o contrabandista chinês Law Kin Chong. Em 2002, quando atuou na força-tarefa antipirataria, focou a investigação nos pequenos contrabandistas, livrando o chefe da máfia. A advogada do contrabandista costumava visitar Blat no Gaeco. A Corregedoria descobriu ainda que ele morou num apartamento de Alfredo Parisi, condenado por bancar o jogo do bicho. Antes de virar promotor, ele foi sócio do filho de Ivo Noal, outro banqueiro do bicho, numa loja de conveniência. Esta é a fonte privilegiada da Veja, da TV Globo e dos jornalões.

Os fariseus e a dignidade


O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?

O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para, depois jogá-lo de volta na lata do lixo.

No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no fim do mês.

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime “decrépito”, governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro “goulag tropical”, uma ilha transformada em prisão.

Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição internacional?

Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível, detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua casa?

Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio? Escandalizam-se, dizendo que se “passou dos limites”, quando constatam que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da “comunidade internacional”, modelo de “civilização”, agentes do colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas grandes guerras mundiais, do fascismo?

Comparam a “indignação” atual dos jornais dos seus patrões com o que disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os “falsos positivos” (sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país, Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela “civilizada” Israel – que ademais conta com empresas que anunciam regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores desaparecerem? Disseram que isso “passou de todos os limites” ou ficaram calados, para não perder seus empregos?

Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda, foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana, orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum Fórum Social Mundial.
Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um tem seu gosto, mas não dá para posar como “progressista”, escolhendo Davos a Porto Alegre.)

Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando, favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado. Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se rendeu ao FMI.

Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush, porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra?

Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil: os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam. Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da covardia.

Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:

“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,
como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros
que têm em si o decoro de muitos homens.
Estes são os que se rebelam com força terrível
contra os que roubam aos povos sua liberdade,
que é roubar-lhes seu decoro.
Nesses homens vão milhares de homens,
vai um povo inteiro,
vai a dignidade humana…

Do Blog do Mestre Emir Sader

quarta-feira, 10 de março de 2010

RBS e Piratini mantém uma Central de Dados Fictícios



A mentira organizada

Dias atrás o secretário da Educação da governadora Yeda, cujo nome não lembro, afirmou que o declínio súbito do número de alunos - menos 75 mil entre 2009 e 2010 - matriculados na rede pública estadual se devia à queda dos índices de natalidade no estado.

Na hora, achei imprudência uma autoridade afirmar isso de maneira tão leviana, sem dados empíricos para sustentar esse verdadeiro "chute", mas, como tudo no governo Yeda é irresponsável, ficou por isso mesmo.

Mas hoje, na página 3 do jornal Zero Hora, a afirmação é ratificada: "o fenômeno se deve, em grande parte, - garante o jornalista de ZH - à diminuição do número de filhos por família nas últimas décadas".

Já se vê que a RBS e o Palácio Piratini mantém uma espécie de Central de Dados Fictícios (CDF), bem como um rosário de falsas razões e motivos inventados para justificar as tagarelices do tal "Déficit Zero" e outras lorotas que criam com o objetivo de engambelar a cidadania do estado. Porto Alegre está coalhada de audórs com propaganda enganosa do governo Yeda onde aparecem números notáveis no desempenho da educação (a qualidade teria crescido 98%), da segurança (melhorou 151%), da saúde (melhorou 120%), das estradas (qualidade 110% melhor) e assim por diante. Esses cartazes imaginosos e mentirosos devem estar espalhados por muitas cidades do Rio Grande do Sul. Mentiras às mancheias.

Copilado do Blog Diário Gauche

A propósito do tema, "Mentira" com o ótimo Manu Chao:

manu chao - mentira
Found at skreemr.com

segunda-feira, 8 de março de 2010

Editorial da Folha perde o ânimo com Serra



E classifica o governo Lula de "cesarismo"

O jornal paulistano Folha de S. Paulo é sabidamente um diário serrista, ou melhor, era serrista. Hoje, em editorial, o jornal da família Frias "derruba os braços", como se diz, com o tucano José Serra. Derruba os braços, desanima, desacorçoa, murcha, perde o ânimo. A Folha está dizendo à Serra: - Te larguei, magrão! E o faz em tom lamentoso e quase cético em relação a uma possível modificação deste quadro de apatia tucana, pelo menos até outubro próximo.

Do governador paulista, a Folha constata o seguinte: "Se grandes reservas de astúcia e de cautela são necessárias a um bom político, é também verdade que não há liderança concebível numa atitude de permanente aversão ao risco e à clareza de compromissos".

E acaba sobrando também para o presidente Lula: "Serra ou não Serra, Aécio ou não Aécio, os nomes perdem em importância; o que ressalta, acima de tudo, é o modo com que a vida política no Brasil parece distante dos padrões de uma democracia moderna. De um lado, surge uma candidata inventada pelo cesarismo presidencial [grifo DG]; de outro, ambições pessoais se desfazem em picuinhas e sussurros, sem nada de significativo a apresentar para a população".

As uvas estão verdes. Como o cenário eleitoral de 2010 se tolda cada vez mais para a direita - do qual a Folha é vanguarda - o parecer sobre o universo é pessimista: "a vida política no Brasil parece distante dos padrões de uma democracia moderna". O que é mesmo paradigma de "democracia moderna"? A gestão tucana de São Paulo? De Minas Gerais? Do Rio Grande do Sul? Ou seria "moderna" a gestão do meio-tucano-meio-Dem José Roberto Arruda no Distrito Federal?

Igual absurdo é chamar o governo Lula de "cesarismo". Cesarismo é sinônimo de despotismo, autocratismo e autoritarismo. Nem o mais empedernido reacionário da direita brasileira ou o mais isolado dos esquerdistas chamaria o presidente Lula de autocrático. Ele tem muitas falhas, a ideia fixa na conciliação como método político, joga com pau de dois bicos no subproletariado e no capital financeiro e seus aliados de classe, mas ninguém que não seja portador de má consciência pode classificar Lula de praticante de cesarismo.

A rigor, o que a Folha está querendo dizer, mas não tem coragem de pronunciar (e admitir de público) com todas as letras é o seguinte:

- Perderemos mais uma vez, tigrada!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Se o "Farol" é o mais articulado, o que sobra para o resto da oposição?




Sábios de agenda vencida

"A voz mais articulada e insistente do oposicionismo tucano é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua corte reúne sábios de agenda vencida, como os marqueses do Império que se reuniam em Paris para falar mal do marechal Floriano Peixoto".

Trecho da coluna do jornalista (de direita) Elio Gaspari publicado na Folha, edição de hoje.

Fenômeno, os celetistas do PIG estão quase todos jogando a toalha. Admitem que a causa tucana é quase inútil, pelo menos em 2010.