sábado, 19 de dezembro de 2009

Quem tem Yeda não precisa de Arruda.

O primeiro olhar que lanço é sobre o “Pacote de Projetos” da governadora Yeda Crusius proposto à Assembléia Legislativa e como ele se relaciona com as pessoas. Há no texto três pontos básicos que achei interessantes para a abordagem e que, apesar de relacionados, podem ser lidos de forma aleatória.

O QUE É O PROJETO E POR QUE É RUIM:
Ele consiste basicamente na mudança do piso salarial dos soldados da Brigada Militar para R$ 1.200, com aumento médio de 20%, enquanto o do magistério chegará a R$ 1.500, para 40 horas semanais, adequado a um novo plano de carreira, em elaboração.
O que é fato: o governo federal instituiu um piso salarial para todo o Brasil, ou seja, nenhum professor poderia ganhar menos do que R$ 950,00 por 40h semanais. Entretanto, cada estado tem o direito de organizar o seu Plano de Carreira (conjunto de regras que norteiam os avanços financeiros, promocionais e estruturais de quem é professor da escola pública).No Rio Grande do Sul, o Plano de Carreiro vem sendo estruturado e negociado com cada governo, há pelo menos 30 anos. Ele é fruto da luta de nosso magistério e não simplesmente da boa vontade dos governantes. Hoje quem entra no Quadro do Magistério Público Estadual, apenas com o Curso Normal, recebe, para trabalhar 20h semanais, o equivalente a aproximadamente R$ 475,00 (o piso salarial prevê os R$ 950,00 para 40h semanais). É a partir desse piso que as vantagens dos professores que se dedicam a agregar mais conhecimento a sua carreira – e, por tanto, a estarem muito mais qualificados para ensinar- são feitas.
Na contramão de tudo isso, o projeto da Yeda prevê o piso de R$ 1.500 para todos os professores, independentemente de seu histórico de qualificação, já que ele estabelece o fim de todas as vantagens e a estagnação do valor por tempo indeterminado. Em outras palavras, aqueles que investem em pós-graduação, mestrado, doutorado, que organizam eventos, fazem publicações, participam de cursos etc. receberão exatamente o mesmo que aqueles que passam a carreira toda com uma formação mínima. Muitos professores, atualmente, por seus esforços em ampliar conhecimento, ganham muito mais do que os R$ 1.500.A mudança também se transfere para as aposentadorias, pois todas as vantagens conseguidas por professores da ativa também são incorporadas ao salário dos aposentados.Isso é, no mínimo, desvalorização e desrespeito (para ficar em termos brandos) daqueles que dedicam uma vida toda para ser melhor profissionalmente, e conseqüentemente, para melhorar o ensino da escola pública. Você se sentiria motivado a se qualificar quando isso não significa nada?

*busquei essas explicações junto a uma Professora do Ensino Público, Andréa Schaeffer, e, portanto, trazem consigo grande legitimidade em relação ao assunto.

MAC. RITOCRACIA
O projeto ainda prevê a chamada meritocracia: os servidores ativos poderão participar de um plano de desempenho institucional. Quem aderir receberá, na prática, um 14° salário se o órgão ao qual estiver vinculado alcançar as metas contratualizadas.Para começo de prosa, a meritocracia é um transplante da lógica norte-americana, o que, naturalmente, me causa inquietação. Isso, porque esse método de ação não foi pensado por brasileiros, logo não tem a menor intimidade com a nossa realidade educacional. Sem falar que ele fere o princípio de igualdade entre os servidores e se alinha ideologicamente com a “cultura de mercado”.

Mas, considerando a proposta, ainda pode-se perguntar: a quem caberia autoridade para avaliar o mérito do trabalho desses profissionais? Certamente, não aos estudantes, os únicos com poder real de mostrar esses resultados, no caso do magistério.A meritocracia subjuga o trabalho dos professores a metas cartilhinescas, idealizadas sabe se lá por quem e com quais intenções (ah, nesse caso vale lembrar que a proposta vem de um governo neoliberal...), não respeitando as singularidades que o processo de ensinar exige. Só quem realmente vive diariamente em salas de aula sabe que cada grupo, cada aluno, desenvolve um jeito particular de aprender. Você provavelmente já viu um animal sendo adestrado para obedecer a comandos e em troca receber de seu bondoso dono um torrão de açúcar. Posso imaginar a governadora Yeda em um zoológico quando se inspirou a fazer essa proposta para o magistério, só não sei se o amargo salário mínimo é proporcional ao delicioso torrão de açúcar.

SENSO COMUM, O MAIOR ALIADO DA YEDA
Os meios de comunicação “imparciais” noticiaram o Projeto da governadora, sem explicar o que ele implica na prática. Além disso, trataram de adjetivá-lo, algo como nas palavras de Lasier Martins: “Plano de Valorização dos Professores, que vem muito a calhar” e que, como, é de praxe ao figurão, não expôs os motivos para fazer tais adendos. Aos olhos do público leigo, que não recebe a informação completa, muito menos uma análise crítica, o aumento para R$ 1.500 soa como uma boa ação de nossa famigerada governadora. Pois é, e que ironia do destino, ano que vem é justamente um ano eleitoral!
O ponto a que quero chegar é: as pessoas recebem essa informação e, sem questioná-la, apropriam-se dela, e pior, passam a reproduzi-la. Esse sistema é o maior aliado dos políticos, há muito tempo, desde que a mídia se configurou como o quarto poder.

Por tudo que foi dito, é que apelo para todos aqueles que se sentiram indignados com essa política. Se isso o revolta, é porque você não perdeu sua capacidade mais humana de se solidarizar com o outro frente ao que é injusto. Por favor, não permaneça inócuo a esse tema, os servidores públicos precisam de seu apoio. Não seja um estrangeiro na vida, que aqui passa deixa silêncio e um olhar apático. Posicione-se. Um ato simples, como o envio de e-mails à base aliada da Yeda, deixando claro o seu repúdio ao Projeto é uma ação que faz a diferença. Se os deputados souberem que os eleitores estão de olho em suas decisões, eles passarão a representar verdadeiramente as pessoas – e não aos interesses de um governo ou conchavo político.

Segue a lista com os e-mails dos deputados, é simplesmente copiá-la e colá-la na tua barra de envio, e claro, deixar bem explicito o teu posicionamente e dizer que tu estás de olho nessa gente!

adilson.troca@al.rs.gov.br ajbrito@al.rs.gov.br alberto.oliveira@al.rs.gov.br alexandre.postal@al.rs.gov.br alvaro.boessio@al.rs.gov.br coffy.rodrigues@al.rs.gov.br edson.brum@al.rs.gov.br francisco.appio@al.rs.gov.br frederico.antunes@al.rs.gov.br gilberto.capoani@al.rs.gov.br jeronimo.goergen@al.rs.gov.br joao.fischer@al.rs.gov.br jorge.gobbi@al.rs.gov.br fernando.zachia@al.rs.gov.br mano.changes@al.rs.gov.br marco.peixoto@al.rs.gov.br marquinho.lang@al.rs.gov.br mauro.sparta@al.rs.gov.br nelson.harter@al.rs.gov.br nelson.marchezan@al.rs.gov.br paulo.borges@al.rs.gov.br paulo.brum@al.rs.gov.br pedro.pereira@al.rs.gov.br pedro.westphalen@al.rs.gov.br sandro.boka@al.rs.gov.br silvana.covatti@al.rs.gov.br zila.breitenbach@al.rs.gov.br

Mais um fim de ano de luta!
Fotos do ato do dia 1° de Dezembro

Fotos do ato do dia 15 de Dezembro


Jana.

3 comentários:

Thainá disse...

É isso ae
Parabéns pelo texto Jana.
"Posso imaginar a governadora Yeda em um zoológico quando se inspirou a fazer essa proposta para o magistério, só não sei se o amargo salário mínimo é proporcional ao delicioso torrão de açúcar." (...)

#eu ri

bezoca

Unknown disse...

É no mínimo gratificante ver um texto de tanta propriedade escrito por uma aluna. Pelo que expôs, a autora possui um nível invejável de politização e consciência do papel do professor (bem ou não tão bem) na vida de todos nós. E pensar que existem professores que pensam que não vale a pena lutar (e expressam esta opinião para quem quiser ler ou ouvir). Parabéns e obrigada por teu apoio.

Anônimo disse...

Jana, primeiramente parabéns pelo texto brilhante! Você conseguiu passar ao leitor as peculiaridades do pacote que a mídia insiste em vangloriar.
Como você bem comentou, aos olhos dos leigos que simplesmente recebem a notícia de que um professor passará a receber famigerados R$ 1.500,00 por mês, parece ser um grande avanço aplicado por um dos mais corruptos governos que já passaram pelo comando do nosso glorioso Estado.
Contudo, ao ampliar a notícia, percebe-se que se trata de uma manobra política visando as eleições do ano que vem e não uma preocupação com esta classe tão importante para a formação dos cidadões.
Eliminar critérios de qualificação como pós-graduação, mestrado e doutorado certamente desqualificará o ensino publico pois, infelizmente, o povo brasileiro é acomodado e geralmente apenas busca crescimento quando vê alguma possibilidade de retorno financeiro. Estendo esta crítica a todas as classes!
Agora é aguardar pela decisão da Assembléia e bom senso de nossos representantes.
Mais uma vez parabéns! Orgulho-me de poder conviver com uma pessoa tão jovem e ao mesmo tempo tão madura como você!
Grande beijo e conte comigo sempre!
Edivan