quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Gilson Caroni Filho: O presidente e o palavrão que incomoda

11 de Dezembro de 2009 - 16H50

Se tratar da língua é tratar de um tema político, a fala sem rodeios do presidente Lula, durante cerimônia de assinatura dos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, no Maranhão, vai encher a seção de cartas de jornais e revistas, além de dar o tom do moralismo seletivo dos grandes articulistas.


Por Gilson Caroni Filho*, na Carta MaiorFingirão não saber que palavras tidas como chulas são formas lingüísticas ímpares para expressar emoções que permeiam o corpo e os amplos campos das relações sociais. Não está em questão se o emprego se deu em contexto adequado, mas o que move o coro dos “indignados”.



Fingirão não saber que palavras tidas como chulas são formas lingüísticas ímpares para expressar emoções que permeiam o corpo e os amplos campos das relações sociais. Não está em questão se o emprego se deu em contexto adequado, mas o que move o coro dos “indignados”.

Ao afirmar que "eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB. Se o outro é do PFL. Eu não
quero saber se é do PT. Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra; esse é o dado concreto", Lula tem consciência de que os opositores dirão que desrespeitou a postura pública que deveria manter em face de majestade do cargo que ocupa. Tanto que se antecipa à crítica anunciada: “Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência que eles falam mais palavrão do que eu todo dia e tenho consciência de como vive o povo pobre desse país".

Como tem sido colonizada para ter vergonha de ser o que é, uma boa parcela da classe média urbana se apresenta como defensora intransigente da propriedade, da família e do Estado Patrimonial. Confunde governo e salvação, ignora a representação, desconhece direitos sociais e políticos, menosprezando a exploração econômica, embora seja “mobilizável” por campanhas de caridades que reforcem a sua imagem de privilegiadas. Em busca de ilusões perdidas, está disponível para aventuras que realçam a ferocidade dos seus recalques. E qualquer enunciado que apresente um padrão variante é o suficiente para açular o seu ódio de classe.

Pouco lhe importa se campeia a violência, a truculência e a miséria. Em seu ilusório casulo, o que merece relevo é o destempero verbal de um presidente que não segue os padrões dos antigos donos do poder. É de pouca importância se o governo anterior reduziu a zero os empréstimos da Caixa Econômica Federal às autarquias e estatais da área de saneamento básico. Também não lhe tira o sono se a decisão política do tucanato provocou, além da dengue, surtos de cólera, leishmaniose visceral, tifo e disenterias. Ora, doenças resultantes da falta de saneamento não lhe incomodam, pois fezes liquefeitas são desprezíveis. A merda que lhe aflige é aquela que aparece no improviso presidencial como dado concreto.

Para Lula, o descalabro no saneamento é uma tragédia, e, de fato, o é. Por sua história, o presidente faz parte de uma legião de sobreviventes. De um exército que resistiu a séculos de dificuldades imensas, naturais e humanas. Tem orgulho saudável de sua força. Da força desse povo que come mandacaru e capulho verde de algodão e ainda tem a esperança desesperada de querer viver. Isso é coragem, é grandeza. Essa é a merda que a causa engulhos na grande imprensa e nos seus leitores indignados. Mas indignados com o quê, afinal?
Indignados pela existência de erros que se repetem há tempos? Indignados pela impotência de um saber divorciado da dimensão histórica e da responsabilidade social que deveria caber aos centros de ensino que freqüentaram? Indignados pela ameaça, concreta e imediata, da morte, pela fome endêmica e, até bem pouco tempo epidêmica, dos mais miseráveis? Não. O que os ruborizados pelo emprego da palavra "merda" não suportam é a ausência do promotor da "paz social", do garantidor de uma ordem política que lhes oferecia, através do conservadorismo autoritário, uma institucionalidade que muito apreciavam ética e esteticamente. Um simulacro de república feito sob medida.

O problema é que a vestimenta institucional brasileira parece calça curta, fazendo o país caminhar desajeitado, com medo do ridículo. A reforma mais urgente requer produção crescente de cidadania, a criação incessante de sujeitos portadores de direitos e deveres. Em uma sociedade fracionada, essa é a "merda" que ameaça e choca os estamentos mais reacionários: a realidade que não deveria ter emergido com modelagem tão nítida.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Quem tem Yeda não precisa de Arruda.

O primeiro olhar que lanço é sobre o “Pacote de Projetos” da governadora Yeda Crusius proposto à Assembléia Legislativa e como ele se relaciona com as pessoas. Há no texto três pontos básicos que achei interessantes para a abordagem e que, apesar de relacionados, podem ser lidos de forma aleatória.

O QUE É O PROJETO E POR QUE É RUIM:
Ele consiste basicamente na mudança do piso salarial dos soldados da Brigada Militar para R$ 1.200, com aumento médio de 20%, enquanto o do magistério chegará a R$ 1.500, para 40 horas semanais, adequado a um novo plano de carreira, em elaboração.
O que é fato: o governo federal instituiu um piso salarial para todo o Brasil, ou seja, nenhum professor poderia ganhar menos do que R$ 950,00 por 40h semanais. Entretanto, cada estado tem o direito de organizar o seu Plano de Carreira (conjunto de regras que norteiam os avanços financeiros, promocionais e estruturais de quem é professor da escola pública).No Rio Grande do Sul, o Plano de Carreiro vem sendo estruturado e negociado com cada governo, há pelo menos 30 anos. Ele é fruto da luta de nosso magistério e não simplesmente da boa vontade dos governantes. Hoje quem entra no Quadro do Magistério Público Estadual, apenas com o Curso Normal, recebe, para trabalhar 20h semanais, o equivalente a aproximadamente R$ 475,00 (o piso salarial prevê os R$ 950,00 para 40h semanais). É a partir desse piso que as vantagens dos professores que se dedicam a agregar mais conhecimento a sua carreira – e, por tanto, a estarem muito mais qualificados para ensinar- são feitas.
Na contramão de tudo isso, o projeto da Yeda prevê o piso de R$ 1.500 para todos os professores, independentemente de seu histórico de qualificação, já que ele estabelece o fim de todas as vantagens e a estagnação do valor por tempo indeterminado. Em outras palavras, aqueles que investem em pós-graduação, mestrado, doutorado, que organizam eventos, fazem publicações, participam de cursos etc. receberão exatamente o mesmo que aqueles que passam a carreira toda com uma formação mínima. Muitos professores, atualmente, por seus esforços em ampliar conhecimento, ganham muito mais do que os R$ 1.500.A mudança também se transfere para as aposentadorias, pois todas as vantagens conseguidas por professores da ativa também são incorporadas ao salário dos aposentados.Isso é, no mínimo, desvalorização e desrespeito (para ficar em termos brandos) daqueles que dedicam uma vida toda para ser melhor profissionalmente, e conseqüentemente, para melhorar o ensino da escola pública. Você se sentiria motivado a se qualificar quando isso não significa nada?

*busquei essas explicações junto a uma Professora do Ensino Público, Andréa Schaeffer, e, portanto, trazem consigo grande legitimidade em relação ao assunto.

MAC. RITOCRACIA
O projeto ainda prevê a chamada meritocracia: os servidores ativos poderão participar de um plano de desempenho institucional. Quem aderir receberá, na prática, um 14° salário se o órgão ao qual estiver vinculado alcançar as metas contratualizadas.Para começo de prosa, a meritocracia é um transplante da lógica norte-americana, o que, naturalmente, me causa inquietação. Isso, porque esse método de ação não foi pensado por brasileiros, logo não tem a menor intimidade com a nossa realidade educacional. Sem falar que ele fere o princípio de igualdade entre os servidores e se alinha ideologicamente com a “cultura de mercado”.

Mas, considerando a proposta, ainda pode-se perguntar: a quem caberia autoridade para avaliar o mérito do trabalho desses profissionais? Certamente, não aos estudantes, os únicos com poder real de mostrar esses resultados, no caso do magistério.A meritocracia subjuga o trabalho dos professores a metas cartilhinescas, idealizadas sabe se lá por quem e com quais intenções (ah, nesse caso vale lembrar que a proposta vem de um governo neoliberal...), não respeitando as singularidades que o processo de ensinar exige. Só quem realmente vive diariamente em salas de aula sabe que cada grupo, cada aluno, desenvolve um jeito particular de aprender. Você provavelmente já viu um animal sendo adestrado para obedecer a comandos e em troca receber de seu bondoso dono um torrão de açúcar. Posso imaginar a governadora Yeda em um zoológico quando se inspirou a fazer essa proposta para o magistério, só não sei se o amargo salário mínimo é proporcional ao delicioso torrão de açúcar.

SENSO COMUM, O MAIOR ALIADO DA YEDA
Os meios de comunicação “imparciais” noticiaram o Projeto da governadora, sem explicar o que ele implica na prática. Além disso, trataram de adjetivá-lo, algo como nas palavras de Lasier Martins: “Plano de Valorização dos Professores, que vem muito a calhar” e que, como, é de praxe ao figurão, não expôs os motivos para fazer tais adendos. Aos olhos do público leigo, que não recebe a informação completa, muito menos uma análise crítica, o aumento para R$ 1.500 soa como uma boa ação de nossa famigerada governadora. Pois é, e que ironia do destino, ano que vem é justamente um ano eleitoral!
O ponto a que quero chegar é: as pessoas recebem essa informação e, sem questioná-la, apropriam-se dela, e pior, passam a reproduzi-la. Esse sistema é o maior aliado dos políticos, há muito tempo, desde que a mídia se configurou como o quarto poder.

Por tudo que foi dito, é que apelo para todos aqueles que se sentiram indignados com essa política. Se isso o revolta, é porque você não perdeu sua capacidade mais humana de se solidarizar com o outro frente ao que é injusto. Por favor, não permaneça inócuo a esse tema, os servidores públicos precisam de seu apoio. Não seja um estrangeiro na vida, que aqui passa deixa silêncio e um olhar apático. Posicione-se. Um ato simples, como o envio de e-mails à base aliada da Yeda, deixando claro o seu repúdio ao Projeto é uma ação que faz a diferença. Se os deputados souberem que os eleitores estão de olho em suas decisões, eles passarão a representar verdadeiramente as pessoas – e não aos interesses de um governo ou conchavo político.

Segue a lista com os e-mails dos deputados, é simplesmente copiá-la e colá-la na tua barra de envio, e claro, deixar bem explicito o teu posicionamente e dizer que tu estás de olho nessa gente!

adilson.troca@al.rs.gov.br ajbrito@al.rs.gov.br alberto.oliveira@al.rs.gov.br alexandre.postal@al.rs.gov.br alvaro.boessio@al.rs.gov.br coffy.rodrigues@al.rs.gov.br edson.brum@al.rs.gov.br francisco.appio@al.rs.gov.br frederico.antunes@al.rs.gov.br gilberto.capoani@al.rs.gov.br jeronimo.goergen@al.rs.gov.br joao.fischer@al.rs.gov.br jorge.gobbi@al.rs.gov.br fernando.zachia@al.rs.gov.br mano.changes@al.rs.gov.br marco.peixoto@al.rs.gov.br marquinho.lang@al.rs.gov.br mauro.sparta@al.rs.gov.br nelson.harter@al.rs.gov.br nelson.marchezan@al.rs.gov.br paulo.borges@al.rs.gov.br paulo.brum@al.rs.gov.br pedro.pereira@al.rs.gov.br pedro.westphalen@al.rs.gov.br sandro.boka@al.rs.gov.br silvana.covatti@al.rs.gov.br zila.breitenbach@al.rs.gov.br

Mais um fim de ano de luta!
Fotos do ato do dia 1° de Dezembro

Fotos do ato do dia 15 de Dezembro


Jana.

domingo, 13 de dezembro de 2009

É o que estou pensando no momento

A Folha tem todo o direito de ter suas preferências políticas e devia fazê-lo de modo transparente, ao invés de transformar as páginas do jornal em uma usina de espertezas e vilanias. Mas não tem nenhum direito de reivindicar o interesse público como cúmplice dessa estratégia desesperada e enlouquecida. O único objetivo do referido artigo foi atingir o caráter do presidente da República na esperança de que isso possa ter repercussão na eleição presidencial de 2010. Isso é o que o jornal não pode confessar. E, a essa altura, nem precisa, dado que já é explícito. Práticas como esta, que infelizmente estão se tornando perigosamente frequentes na imprensa brasileira, merecem total repúdio.
Editorial - Carta Maior

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009