sábado, 15 de outubro de 2011
15 de outubro - Unidos pela mudança global
terça-feira, 9 de agosto de 2011
As massas do mundo todo voltam a pedir cabeças
Em 2006, a cineasta Sofia Coppola lançou um filme sobre Maria Antonieta. Ao contar a história da rainha juvenil que vivia de festa em festa enquanto o mundo desabava em silêncio, Coppola acabou por falar de sua própria geração.
Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de hoje.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Brasil, deu pra ti no Haiti
- ...ora, que interesse um país rico como os EUA teria numa miséria como o Haiti?
- Ora, leitor desavisado, é justamente nos países miseráveis que se pagam salários igualmente miseráveis sem direitos trabalhistas. A fragilidade do Estado e mesmo política e econômica de países como o Haiti, permite que muitas empresas internacionais lá se instalem para explorar mão de obra por um preço MUITO irrisório. O que? delírio de esquerdistas? malditos imperialistas? ...pois é, mas o negócio é sério, tão sério que entrou nos telegramas dos EUA que o Wikileaks vazou. E o que você tem a ver com isso??? Veja bem, desde que você tenha nascido no Brasil e tenha um pingo de sensibilidade frente a exploração da miséria, talvez isso tenha mesmo algo a ver contigo, pelo menos pra você xingar o Bonner e a Fátima quando eles aplaudirem as tropas do Brasil no Haiti...
Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks deixam claro que as tropas estrangeiras que ocupam o Haiti há mais de sete anos não têm razão legítima para estar no país e que esta é uma ocupação americana, tanto quanto o são as do Iraque e Afeganistão.
Também mostram que faz parte de uma estratégia adotada pelos EUA há décadas para negar aos haitianos o direito à democracia e autodeterminação e que os governos latino-americanos que fornecem tropas - entre eles, o brasileiro - estão ficando cansados de participar.
Um documento americano vazado mostra como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda (equivalentes a R$ 50 bi na economia brasileira) porque vinha da Venezuela.
Como o presidente haitiano, René Préval, se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar do segundo turno o candidato apoiado por Préval.
Isso foi feito por meio da manipulação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de ameaças abertas de cortar o auxílio pós-terremoto concedido ao país desesperadoramente pobre, se ele não aceitasse a mudança. Tudo isso é amplamente documentado. As tropas da ONU foram levadas ao Haiti para ocupar o país depois de os EUA terem organizado a deposição do presidente haitiano democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, em 2004.
Cerca de 4.000 haitianos foram perseguidos e mortos no período que se seguiu ao golpe, sendo autoridades do governo constitucional detidas enquanto as tropas da ONU "mantinham a ordem".
Outro documento vazado mostra como Edmund Mulet, o então chefe da missão da ONU (a Minustah), receou que Aristide pudesse reconquistar sua influência e recomendou que fossem registradas denúncias criminais contra ele.
Mulet vem sendo abertamente enviesado em suas interferências na política haitiana e tachou de "inimigos" os haitianos que se revoltaram com o fato de a missão ter levado o cólera ao Haiti. Hoje 380 mil haitianos foram contaminados pela doença, que já matou 5.800.
Se a Minustah fosse uma entidade privada, estaria encarando ações judiciais pedindo reparações de muitos bilhões de dólares, além de uma possível ação criminal em razão de sua negligência hedionda ao poluir as fontes de água do Haiti com essa bactéria mortífera.
Ironicamente, o custo anual da Minustah, US$ 850 milhões, é mais de nove vezes o que a ONU levantou para combater a epidemia. O Brasil não é um império, como os EUA, e não tem razão para ser parceiro júnior de um, especialmente em empreendimento tão brutal e censurável. Isso contraria tudo o que representam Lula, Dilma e o PT.
Isso eviscera o potencial do Brasil de exercer liderança moral no mundo - algo que o país já demonstrou em muitas áreas, desde as mudanças históricas iniciadas sob a administração de Lula. Já passou da hora de o Brasil retirar suas tropas do Haiti.
Artigo de Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net), e presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org). Publicado hoje na Folha.
Jana
sábado, 19 de março de 2011
O espectro Lula - Emir Sader
Por que se apela de novo para o “espectro do comunismo”? Porque essas mesmas elites passaram do desespero ao desalento, ao verem seus candidatos serem derrotados pela terceira vez em seguida e se darem conta que o país – que sempre consideraram deles – escapar entre seus dedos.
O fantasma que assusta as elites dominantes se chama Lula. Conseguiram contorná-lo por muito tempo, até que o fracasso do presidente dos seus sonhos – FHC – acabou abrindo espaço para que Lula fosse eleito, em 2002.
Lula começou sob os olhares confiantes dos que consideravam que ele não seria capaz de controlar uma herança econômica de depressão profunda e prolongada, além de descontrole inflacionário, endividamento alto, déficits da balança comercial e de pagamentos, reservas baixas e cartas de compromisso assinadas com o FMI que comprometiam a soberania nacional e a possibilidade de fortalecer o Estado e desenvolver politicas sociais.
Em seguida, quando se deram contra das precauções com que o Lula assumia, passaram a atacá-lo por supostamente tomar de assalto o aparelho de Estado pelos partidos de esquerda, pelos sindicatos. Tentaram a derrubada do governo em 2005, mas ao temer as reações populares, trataram de deixá-lo sangrar até ser derrotado nas eleições de 2006.
Derrotados, o editor chefe de um dos jornais da direita dava murros na mesa enquanto andava, raivoso, em torno dela, na reunião do comitê de redação da empresa, gritando: “Onde é que nós erramos. Onde é que nós erramos?” (O mesmo personagem que tinha interpelado Lula em almoço na redação da sua empresa sobre como ele pensava governar o Brasil, se não sabia falar inglês?)
Tiveram que conviver com o Lula por dois mandatos e, pior (para eles), um presidente que foi recebendo apoios populares de forma crescente e inédita, na mesma medida em que a velha mídia perdia credibilidade e audiência. E passava a diminuir, pela primeira vez, a desigualdade que as elites tinham produzido como característica marcante do Brasil, rompendo com todos os dogmas que essa mesma elite jurava que eram inalteráveis.
O espectro que assusta as elites dominantes hoje, no Brasil, não é outro, senão o espectro Lula. O das camadas populares que passaram a ter seus direitos minimamente garantidos, que passam a ter consciência que um deles pode chegar a governar o Brasil e o faz de maneira incomparavelmente superior do que todos os anteriores representantes daquelas elites.
Lula tira o sono das elites e dos seus ventríloquos na velha mídia. Acreditaram nas pesquisas e se jogaram por inteiro atrás do seu candidato contra Dilma, até que tiveram que se ater à realidade de que o Brasil mudou - apesar deles. Resta-lhes acenar velhos fantasmas como o “espectro do comunismo”, quando o medo deles é do Lula, é medo do povo, é medo da democracia, é medo do Brasil.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook.
Texto extraido do Carta Maior
Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook e há muito que a tecnologia derrubou as normas caducas da censura. Os homens de Mubarak parece terem perdido toda iniciativa. Os jornais de seu partido estão cheios de autoengano: jogam as notas sobre as manifestações para os pés da primeira página, como se com isso fossem tirar as multidões das ruas; como se, de fato, pelo apequenamento das notas os protestos jamais tivessem ocorrido. O artigo é de Robert Fisk.
Robert Fisk - La Jornada
Cairo – Dia de oração ou de fúria? Todo o Egito esperava o sabbath muçulmano – para não mencionar os terríveis aliados do Cairo – enquanto o presidente ancião do país se aferra ao poder, depois de noites de violência que sacudiram a fé estadunidense na estabilidade do regime.
Até agora morreram 5 homens durante os distúrbios e quase outros mil foram encarcerados. A polícia golpeou mulheres e pela primeira vez um escritório do partido governante, o Partido Nacional Democrático foi incendiado. Os rumores são aqui tão perigosos como gás lacrimogênio. Um jornal do Cairo disse que um dos principais conselheiros de Hosni Mubarak voltou de Londres com 97 maletas repletas de dinheiro, mas outros repórteres falam de um presidente furioso, que grita para o alto comando das polícias, porque não trataram com mais severidade os manifestantes.
Mohamed el Baradei, prêmio Nobel e ex-funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) voltou sexta-feira ao Egito, mas ninguém acredita – salvo talvez os estadunidenses – que possa concentrar em torno de si os movimentos de protesto que surgiram em todo o país.
Já há sinais de que quem está farto do regime corrupto e antidemocrático de Mubarak estão convencendo os policiais mal pagos que patrulham o Cairo a se unirem a eles. Irmãos! Quanto lhes pagam? Uma multidão começou a gritar aos policiais da capital. Mas ninguém negocia: não há nada a negociar, exceto a partida de Mubarak para o exílio; e o governo egípcio não diz nem faz nada, que é mais ou menos o que vinha fazendo durante as três décadas passadas.
As pessoas falam de revolução, mas não há quem substitua os homens de Mubarak – que jamais tinha designado um vice-presidente -, e um jornalista egípcio me disse na sexta passada que tinha encontrado alguns amigos que lamentavam pelo presidente isolado e solitário. Mubarak tem 82 anos de idade e ainda assim insinuou que postulará de novo a presidência, para indignação de milhões de egípcios.
A verdade nua e horrível, no entanto, é que, salvo por sua polícia brutal e seu exército execravelmente dócil – o qual, por certo, não vê Gamal, o filho de Mubarak, com agrado -, o governo carece de poder. Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook e há muito que a tecnologia derrubou as normas caducas da censura.
Os homens de Mubarak parece terem perdido toda iniciativa. Os jornais de seu partido estão cheios de autoengano: jogam as notas sobre as manifestações para os pés da primeira página, como se com isso fossem tirar as multidões das ruas; como se, de fato, pelo apequenamento das notas os protestos jamais tivessem ocorrido.
Mas não se precisa ler os jornais para saber o que se tem falado. A sujeira e as cidades perdidas, confusas, os esgotos a céu aberto e a corrupção de todo funcionário público, as prisões superlotadas, as eleições risíveis, todo o vasto e esclerosado edifício do poder levou, por fim, os egípcios às ruas. Amr Moussa, chefe da Liga Árabe, apontou algo importante na recente reunião de cúpula dos países árabes, no centro turístico egípcio de Sharm el Sheikh: Túnis não está longe de nós: os homens árabes estão destroçados.
Mas será verdade mesmo? Um velho amigo me contou uma história horrível de um egípcio pobre que afirmou não ter interesse em afastar os chefes corruptos de suas comunidades do deserto. Ao menos agora sabemos onde vivem, disse. Há mais de 80 milhões de pessoas no Egito, 30% delas são menores de 20 anos e já não tem medo.
Uma espécie de nacionalismo egípcio – mais que islamismo – faz-se sentir nas manifestações. O dia 25 de janeiro é o Dia Nacional da Polícia – para honrar a força que deu a vida combatendo as tropas britânicas em Ismailia -, e o governo reprimiu os manifestantes, dizendo que eles desonravam os mártires. Não, gritaram as multidões: esses policiais que morreram em Ismailia eram homens valentes; seus descendentes atuais, de uniforme, não nos representam.
O governo, no entanto, não é tonto. Há certa astúcia na liberação gradual da imprensa e da televisão nesta pseudodemocracia desengonçada. Deu aos egípcios apenas o ar suficiente para respirar, para mantê-los calados, para desfrutar sua docilidade nesta vasta terra laranja. Agricultores e não revolucionários, mas quando vários milhões invadiram as cidades, os bairros baixos e a casas em ruínas e as universidades, as quais lhes deram os títulos mas não empregos, alto teria de ocorrer.
“Estamos orgulhosos dos tunisianos: eles mostraram aos egípcios o que é ter orgulho – disse um colega egípcio, nesta sexta. Foram uma inspiração, mas aqui o regime foi mais rápido que o de Ben Ali, em Túnis. Passou um verniz de que tolera uma oposição, ao não prender toda a Irmandade Muçulmana e a dizer logo aos estadunidenses que o grande perigo é o islamismo, que Mubarak é o único que se interpõe entre eles e o “terror”...mensagem que Washington tem se disposto a escutar ao longo dos 10 anos passados.
Existem várias pistas de que as autoridades no Cairo se preveniram acerca do que se avizinhava. Vários egípcios me disseram que em 24 de fevereiro agentes de segurança descolariam imagens de Gamal Mubarak nos bairros baixos, por temor de que provocassem as multidões. Mas o grande número de detenções, os golpes da polícia – em homens e mulheres, igualmente – e o quase colapso do mercado egípcio de valores tem mais a marca do pânico do que a da astúcia.
E um dos problemas foi criado pelo próprio regime: o sistema se desfez de toda pessoa dotada de carisma; expulsou-as do país, e castrou politicamente qualquer oposição real, ao prender muitos dissidentes. Os estadunidenses e a União Europeia pedem que o regime escute o povo, mas que povo e quem são seus líderes? Não é um levante islâmico – embora possa chegar a sê-lo, mas, salvo a cantilena da participação da Irmandade Muçulmana nas manifestações, é apenas uma massa de egípcios asfixiada por décadas de fracasso e humilhação.
No entanto, tudo o que os estadunidenses parecem capazes de oferecer a Mubarak é uma sugestão de reformas, coisa que os egípcios já escutaram muitas vezes. Não é a primeira vez que a violência chegou às ruas do país. Em 1977 houve tumultos por comida – eu estava então no Cairo e havia muitas pessoas famintas e excitadas; o governo de Anuar Sadat conseguiu controlar as pessoas baixando os preços dos alimentos e aplicando prisões e tortura. Tem havido motins policiais que o próprio Mubarak tem reprimido. Mas isso é algo novo.
É interessante que não parece haver animosidade contra os estrangeiros. Muitos jornalistas foram protegidos pelas multidões e – apesar do deplorável apoio de Washington a ditadores do Oriente Médio – nem uma só bandeira dos EUA foi queimada. Isso mostra o que é novo. Talvez um povo tenha crescido... só para descobrir que seus governantes envelhecidos são todos crianças. Tradução: Katarina Peixoto
Link o texto no seu twitter e facebook pela página do Carta Maior:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17341