sábado, 15 de outubro de 2011

15 de outubro - Unidos pela mudança global

(via Diário Gauche)


No dia 15 de outubro gente de todo o mundo tomará as ruas e praças. Da América à Asia, da África à Europa, as pessoas se levantam para reclamar seus direitos e pedir uma autêntica democracia. Agora chegou o momento de nos unirmos todos em um protesto mundial.

Os poderes estabelecidos atuam em beneficio de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria, sem que se importem do custo humano ou ecológico que tenhamos que pagar. Esta intolerável situação deve terminar.

Unidos em uma só voz, faremos saber aos políticos profissionais, e às elites financeiras a quem eles servem, que agora somos nós, as pessoas, quem decidiremos nosso futuro. Não somos mercadorias nas mãos de políticos impostores e banqueiros que não nos representam.

No 15 de outubro nos encontraremos nas ruas para botar em ação a mudança global que queremos. Nos manifestaremos pacificamente, debateremos e nos organizaremos até o conseguir.

É a hora de nos unirmos. É a hora de nos ouvirem.

Saiamos às ruas do mundo no dia 15 de outubro!

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É flagrante e constrangedor, a RBS está numa cruzada para confundir seus leitores/consumidores quanto ao protesto mundial de 15 de Outubro. Os veículos da família Sirotsky querem turbinar o repaginado movimento “Cansei”, agora em convocatórias moralistas (e protogolpistas) contra a corrupção no Brasil. Para tanto, misturam as estações, fazendo crer que é tudo a mesma coisa. Não é, nunca foi.

O movimento mundial de 15 de Outubro é contra o hegemonismo do capital financeiro, que destroi a democracia, desemprega e compromete o planeta. Já o movimento “neoCansei” é um eco do século 19 no coração do século 21, representa o atraso que foi derrotado por Lula e Dilma nas três últimas eleições presidenciais havidas no Brasil. Uma revanche mal ajambrada pela direita brasileira usando ingênuos e interessados em um movimento tão falso quanto vazio.

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"Contra o poder financeiro, político, militar e midiático" #15oct

terça-feira, 9 de agosto de 2011

As massas do mundo todo voltam a pedir cabeças

(via Diário Gauche)

Em 2006, a cineasta Sofia Coppola lançou um filme sobre Maria Antonieta. Ao contar a história da rainha juvenil que vivia de festa em festa enquanto o mundo desabava em silêncio, Coppola acabou por falar de sua própria geração.

Esta mesma que cresceu nos anos 1990.
No filme, há uma cena premonitória sobre nosso destino. Após acompanharmos a jovem Maria por festas que duravam até a manhã com trilhas de Siouxsie and the Banshees, depois de vermos sua felicidade pela descoberta do "glamour" do consumo conspícuo, algo estranho ocorre.
Maria Antonieta está agora em um balcão diante de uma massa que nunca aparece, da qual apenas ouvimos os gritos confusos. Uma massa sem representação, mas que agora clama por sua cabeça.
Maria Antonieta está diante do que não deveria ter lugar no filme, ou seja, da Revolução Francesa. Essa massa sem rosto e lugar é normalmente quem faz a história. Ela não estava nas raves, não entrou em nenhuma concept store para procurar o tênis mais stylish.
Porém ela tem a força de, com seus gritos surdos, fazer todo esse mundo desabar.
Talvez valha a pena lembrar disso agora porque quem cresceu nos anos 1990 foi doutrinado para repetir compulsivamente que tal massa não existia mais, que seus gritos nunca seriam mais ouvidos, que estávamos seguros entre uma rave, uma escapada em uma concept store e um emprego de "criativo" na publicidade.
Para quem cresceu com tal ideia na cabeça, é difícil entender o que 400 mil pessoas fazem nas ruas de Santiago, o que 300 mil pessoas gritam atualmente em Tel Aviv.
Por trás de palavras de ordem como "educação pública de qualidade e gratuita", "nós queremos justiça social e um Estado-providência", "democracia real" ou o impressionante "aqui é o Egito" ouvido (vejam só) em Israel, eles dizem simplesmente: o mundo que conhecemos acabou.
Enganam-se aqueles que veem em tais palavras apenas a nostalgia de um Estado de bem-estar social que morreu exatamente na passagem dos anos 1980 para 1990.
Essas milhares de pessoas dizem algo muito mais irrepresentável, a saber, todas as respostas são de novo possíveis, nada tem a garantia de que ficará de pé, estamos dispostos a experimentar algo que ainda não tem nome.
Nessas horas, vale a lição de Maria Antonieta: aqueles que não percebem o fim de um mundo são destruídos com ele. Há momentos na história em que tudo parece acontecer de maneira muito acelerada.
Já temos sinais demais de que nosso presente caminha nessa direção. Nada pior do que continuar a agir como se nada de decisivo e novo estivesse acontecendo.

Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de hoje.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Brasil, deu pra ti no Haiti

- ...ora, que interesse um país rico como os EUA teria numa miséria como o Haiti?

- Ora, leitor desavisado, é justamente nos países miseráveis que se pagam salários igualmente miseráveis sem direitos trabalhistas. A fragilidade do Estado e mesmo política e
econômica de países como o Haiti, permite que muitas empresas internacionais lá se instalem para explorar mão de obra por um preço MUITO irrisório. O que? delírio de esquerdistas? malditos imperialistas? ...pois é, mas o negócio é sério, tão sério que entrou nos telegramas dos EUA que o Wikileaks vazou. E o que você tem a ver com isso??? Veja bem, desde que você tenha nascido no Brasil e tenha um pingo de sensibilidade frente a exploração da miséria, talvez isso tenha mesmo algo a ver contigo, pelo menos pra você xingar o Bonner e a Fátima quando eles aplaudirem as tropas do Brasil no Haiti...

Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks deixam claro que as tropas estrangeiras que ocupam o Haiti há mais de sete anos não têm razão legítima para estar no país e que esta é uma ocupação americana, tanto quanto o são as do Iraque e Afeganistão.

Também mostram que faz parte de uma estratégia adotada pelos EUA há décadas para negar aos haitianos o direito à democracia e autodeterminação e que os governos latino-americanos que fornecem tropas - entre eles, o brasileiro - estão ficando cansados de participar.

Um documento americano vazado mostra como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda (equivalentes a R$ 50 bi na economia brasileira) porque vinha da Venezuela.

Como o presidente haitiano, René Préval, se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar do segundo turno o candidato apoiado por Préval.

Isso foi feito por meio da manipulação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de ameaças abertas de cortar o auxílio pós-terremoto concedido ao país desesperadoramente pobre, se ele não aceitasse a mudança. Tudo isso é amplamente documentado. As tropas da ONU foram levadas ao Haiti para ocupar o país depois de os EUA terem organizado a deposição do presidente haitiano democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, em 2004.

Cerca de 4.000 haitianos foram perseguidos e mortos no período que se seguiu ao golpe, sendo autoridades do governo constitucional detidas enquanto as tropas da ONU "mantinham a ordem".

Outro documento vazado mostra como Edmund Mulet, o então chefe da missão da ONU (a Minustah), receou que Aristide pudesse reconquistar sua influência e recomendou que fossem registradas denúncias criminais contra ele.

Mulet vem sendo abertamente enviesado em suas interferências na política haitiana e tachou de "inimigos" os haitianos que se revoltaram com o fato de a missão ter levado o cólera ao Haiti. Hoje 380 mil haitianos foram contaminados pela doença, que já matou 5.800.

Se a Minustah fosse uma entidade privada, estaria encarando ações judiciais pedindo reparações de muitos bilhões de dólares, além de uma possível ação criminal em razão de sua negligência hedionda ao poluir as fontes de água do Haiti com essa bactéria mortífera.

Ironicamente, o custo anual da Minustah, US$ 850 milhões, é mais de nove vezes o que a ONU levantou para combater a epidemia. O Brasil não é um império, como os EUA, e não tem razão para ser parceiro júnior de um, especialmente em empreendimento tão brutal e censurável. Isso contraria tudo o que representam Lula, Dilma e o PT.

Isso eviscera o potencial do Brasil de exercer liderança moral no mundo - algo que o país já demonstrou em muitas áreas, desde as mudanças históricas iniciadas sob a administração de Lula. Já passou da hora de o Brasil retirar suas tropas do Haiti.

Artigo de Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net), e presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org). Publicado hoje na Folha.


Jana

sábado, 19 de março de 2011

O espectro Lula - Emir Sader

O anticomunismo é o ultimo refúgio das elites brasileiras em pânico. Cada vez que vêem seus interesses e seus privilégios em perigo, apelam para o expediente do “espectro do comunismo”. Foi em seu nome que se fizeram as piores coisas na história brasileira, incluído o golpe de 1964, perpetrado pelo suposto risco que o comunismo traria para a democracia, para instaurar a pior ditadura que o Brasil já conheceu.

Por que se apela de novo para o “espectro do comunismo”? Porque essas mesmas elites passaram do desespero ao desalento, ao verem seus candidatos serem derrotados pela terceira vez em seguida e se darem conta que o país – que sempre consideraram deles – escapar entre seus dedos.

O fantasma que assusta as elites dominantes se chama Lula. Conseguiram contorná-lo por muito tempo, até que o fracasso do presidente dos seus sonhos – FHC – acabou abrindo espaço para que Lula fosse eleito, em 2002.

Lula começou sob os olhares confiantes dos que consideravam que ele não seria capaz de controlar uma herança econômica de depressão profunda e prolongada, além de descontrole inflacionário, endividamento alto, déficits da balança comercial e de pagamentos, reservas baixas e cartas de compromisso assinadas com o FMI que comprometiam a soberania nacional e a possibilidade de fortalecer o Estado e desenvolver politicas sociais.

Em seguida, quando se deram contra das precauções com que o Lula assumia, passaram a atacá-lo por supostamente tomar de assalto o aparelho de Estado pelos partidos de esquerda, pelos sindicatos. Tentaram a derrubada do governo em 2005, mas ao temer as reações populares, trataram de deixá-lo sangrar até ser derrotado nas eleições de 2006.

Derrotados, o editor chefe de um dos jornais da direita dava murros na mesa enquanto andava, raivoso, em torno dela, na reunião do comitê de redação da empresa, gritando: “Onde é que nós erramos. Onde é que nós erramos?” (O mesmo personagem que tinha interpelado Lula em almoço na redação da sua empresa sobre como ele pensava governar o Brasil, se não sabia falar inglês?)

Tiveram que conviver com o Lula por dois mandatos e, pior (para eles), um presidente que foi recebendo apoios populares de forma crescente e inédita, na mesma medida em que a velha mídia perdia credibilidade e audiência. E passava a diminuir, pela primeira vez, a desigualdade que as elites tinham produzido como característica marcante do Brasil, rompendo com todos os dogmas que essa mesma elite jurava que eram inalteráveis.

O espectro que assusta as elites dominantes hoje, no Brasil, não é outro, senão o espectro Lula. O das camadas populares que passaram a ter seus direitos minimamente garantidos, que passam a ter consciência que um deles pode chegar a governar o Brasil e o faz de maneira incomparavelmente superior do que todos os anteriores representantes daquelas elites.

Lula tira o sono das elites e dos seus ventríloquos na velha mídia. Acreditaram nas pesquisas e se jogaram por inteiro atrás do seu candidato contra Dilma, até que tiveram que se ater à realidade de que o Brasil mudou - apesar deles. Resta-lhes acenar velhos fantasmas como o “espectro do comunismo”, quando o medo deles é do Lula, é medo do povo, é medo da democracia, é medo do Brasil.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook.

Texto extraido do Carta Maior


Esta é uma revolução pelo Twitter e pelo Facebook e há muito que a tecnologia derrubou as normas caducas da censura. Os homens de Mubarak parece terem perdido toda iniciativa. Os jornais de seu partido estão cheios de autoengano: jogam as notas sobre as manifestações para os pés da primeira página, como se com isso fossem tirar as multidões das ruas; como se, de fato, pelo apequenamento das notas os protestos jamais tivessem ocorrido. O artigo é de Robert Fisk.

domingo, 14 de novembro de 2010

Bem-vindos à luta de classes!



Ontem à tarde, em Santa Maria, região central do estado
do Rio Grande do Sul, aconteceu uma manifestação de estudantes
que frequentam cursinhos de ensino privado de nível pré-universitário.
O ótimo vídeo acima (feito pelo Diário de Santa Maria/RBS) mostra
quem são esses alunos, todos brancos e filhos da classe média
capacitada a pagar ensino privado para os seus filhos e filhas.
Veja se você encontra um/a negro/negra nesta multidão de branquinhos
com indumentária up to date e de griffe? Procure bem. Veja de novo.
Essa rapaziada tem cheiro de Mickey Mouse, no entanto, protestam
contra a Universidade Federal de Santa Maria para que a política de
cotas seja revista e rejeitada pela Reitoria.

É disso que se trata: luta de classes e, sobretudo, luta de raças.

Hoje pela manhã, tivemos informação que alunos dos cursos privados
Universitário, Unificado e Anglo estão visitando escolas públicas da
rede estadual de ensino de Porto Alegre visando mobilizar estudantes
para uma grande manifestação contra o Enem, nos próximos dias.
A coisa tem cheiro de pau-mandado.

É de estranhar que - subitamente - desperte a chama da indignação
política em alunos de cursinhos pré-universitários, sabidamente
virgens do espírito combativo do reconhecido e autêntico movimento
estudantil brasileiro, vanguarda permanente em todas as grandes
lutas políticas do Brasil, nos últimos setenta anos (desde 1937,
pelo menos, quando da fundação da UNE).

De qualquer forma, é de se estimular a politização dos estudantes
da direita brasileira, mesmo que estejam claramente instrumentalizados
pelos interesses (ocultos) dos proprietários de escolas privadas de ensino,
em todos os graus. O debate aberto e sincero, o conflito mesmo,
entre os interesses que se chocam neste episódio do Enem é o
melhor caminho para as soluções estratégicas de que necessita
a nossa política educacional.

Estudantes brancos, filhinhos de papai e alienadinhos de todo o gênero:
bem-vindos à luta de classes! O tio Mickey se orgulha de vocês!

Do blog Diário Gauche (Cristovão Feil)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Voz dos donos: o seletor de opiniões

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa

Liberdade de expressão parece ser um seletor de opiniões grudado nas mãos dos donos de veículos de comunicação ou de seus prepostos (diretores de Redação, editores-chefes, editores em geral). A liberdade de expressão pode até ser exercida, mas seu alcance é limitado e não pode, em hipótese alguma, ultrapassar a cadeia hierárquica de comando. Que é louvável clamar por esta preciosa liberdade ninguém tem dúvidas, mas que é execrável concedê-la apenas aos que se alinham com a ideologia dos patrões, pouca gente se arrisca a duvidar.
Vejamos alguns casos bem recentes. Observo que ver apenas um caso nas cercanias da própria imprensa já reclamaria uma boa dose de atenção. Pois bem, até as paredes e os cenários da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, sabem o que teria sido o real motivo para a demissão do experiente jornalista e apresentador de tevê Heródoto Barbeiro: o exercício de sua liberdade para perguntar, da bancada do programa Roda Viva, ao ex-governador José Serra sobre os preços dos pedágios paulistas (ver aqui). No entanto, são estes mesmos que demitem, que mostram truculência e que desfraldam bandeiras pela liberdade de expressão; que altas horas da madrugada mostram-se receptivos a telefonemas exigindo a demissão desse ou daquele profissional que, na pior das hipótese, tenha cometido por pensamento ou por ação apenas um crime: o crime de pensar.
Não mais que passada uma semana e, em 8 de julho deste 2010, ainda na mesma emissora de cunho estatal, ficamos sabendo pela contumaz marolinha com que a imprensa repercute casos do gênero que o jornalista Gabriel Priolli deixara de ser diretor de jornalismo da TV Cultura. A decisão, tomada pelo jornalista Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo da emissora, alimentou boatos a respeito da ingerência política sobre o canal. O fato é que tanto nos corredores da emissora como na blogosfera, circulou – e ainda circula – a informação de que, por trás da demissão de Priolli, pendia em forma de guilhotina uma suculenta matéria sobre – adivinhem – o aumento nos pedágios paulistas.
Mais um pouco e ficaremos convencidos de que no jornalismo paulista expressões como "pedágios" e "liberdade de expressão" são como óleo e água e não podem conviver em uma mesma Redação. Um deles tem que cair, sumir, desaparecer, submergir, calar.

Indignação e espanto
Curioso é que o ato de pensar equivale em importância ao mesmo que cimento e tijolos representam para se tirar da prancheta de um arquiteto uma casa. Chama a atenção a este observador que nesses dois casos nem Barbeiro nem Priolli levaram os lábios ao trombone. No segundo caso é fácil de entender o motivo, uma vez que ele é funcionário da Cultura.
Mas tinha que ser assim? Estaremos diante de um imenso trololó midiático, essa coisa de defender em público seus próprios interesses e em privado fazer o que bem entender e do jeito que melhor lhes convier?
E, então, ficamos sabendo que o crime de pensar pode ser letal se não altamente contagioso: a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida do jornal O Estado de S. Paulodepois de ter escrito, no sábado (2/10), artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. Sintomaticamente, recebeu como título duas palavras e reticências: "Dois pesos...". Mas foi sua possível continuação – ... duas medidas – que levantou ondas e ondas na internet. Todas elas mesclando indignação e espanto por ver como é comum que nas casas dos abastados ferreiros os espetos continuem teimando em ser de pau.

140 toques
A explicação oficial do jornal paulista é que a colunista vinha de há muito enveredando por outros assuntos em sua coluna, que não os da psicanálise. Ora essa, pergunto a minha camisa sem botões: de qual tipo de imprensa estamos falando, quando se enquadra de forma muito natural o campo de expressão de um colunista? Então, na condição de psicanalista, é-lhe vedado abordar política? Tratar de política é campo de algum especialista somente – aqueles que portam carteirinha partidária – ou não se configura o tipo de tema que diz respeito ao interesse de todos nós cidadãos?
Sigamos em frente, do contrário este artigo corre risco de ficar inconcluso. Pois bem, Maria Rita, em sua elegância habitual e refinamento intelectual, afixou em entrevista ao Portal Terra na quinta-feira (7/10), este punhado de palavras sobre sua derrubada do Estadão: "Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um ‘delito’ de opinião." A partir disso minha admiração por ela só fez crescer e olha que já era bem grande.

Na semana que findou o mundo, aquele mundo amante da liberdade de expressão festejou o Premio Nobel da Paz concedido ao pensador chinês Lio Xiaobo, preso por escrever um manifesto pela liberdade de expressão na China. Alguns poucos se apressaram em homenagear Xiaobo. Um deles foi o ex-governador paulista José Serra que escreveu em seu twitter: "O ganhador do Nobel da Paz foi o professor chinês Liu Xiaobo, preso por ter publicado um manifesto em defesa da liberdade de expressão". Assíduo no twitter, bem que ele poderia ter teclado mais 140 caracteres para dizer algo como: "Mas se ele fosse brasileiro e escrevesse num jornal paulista, Xiaobo seria demitido".
Pelo que vejo existem legiões de pessoas decididas a cometer o crime de pensar.


Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

Retirado do sitio Carta Maior